Vítor não era um homem – era um touro. Quase dois metros, cento e vinte quilos, a força de um caminhão Volvo e perito em cinco ou seis artes marciais. Apesar da estatura e porte descomunais, dava-se bem e preferia as mulheres pequenas.

Trabalhava num hotel dos Jardins de dia e numa boate da Augusta na parte da noite. Certo dia, parado em posiçao “Men in Black” na porta do hotel, como era usual, viu passar uma bela morena, a qual o encarou com um sorriso. Apesar de sentir imediata vontade de largar o posto e ir ter com a menina, para passar um xaveco e jogar papo fora, zeloso que era resolveu ali ficar. “Onde se ganha o pão não se come a carne” – pensou, tentando conformar a si mesmo por perder a chance.

Chegando de noite à boate, mal se emprumava à frente do estabelecimento e eis que viu entrar pela porta a tal morena – aquela mesma que vira no hotel, durante o dia. Estava ainda mais bela e radiante do antes, mas o reino das obviedades existia, mesmo para um pobre trabalhador de poucos estudos como Vítor. A morena era puta.

A ele intrigou que ela novamente lhe lançasse o mesmo olhar que havia lançado de dia. Gostou, e mesmo sabendo que isso poderia comprometer seu emprego, decidiu com ela papear após o “expediente”. Cinco da manhã e os dois tomavam um táxi até Interlagos. A morena, Matilde, ficava ali pelos lados da Chácara Flora. Vítor ia descer até o Grajaú.

Quando saltou do carro, Matilde agradeceu a companhia e estendeu algumas notas de dinheiro para Vítor. O rapaz era direito e recusou. Ela insistiu, lhe dizendo que ou aceitava, ou ficava na casa dela hoje. Vítor era pobre e pouco estudado, mas não burro. Pagou o motorista e saltou junto do veículo.

Treparam como loucos – Matilde contou ao homem que havia feito cinco programas na noite, mas nenhum deles “pesado”. Lá pelas oito da manhã, capotaram. Vítor chegou atrasado meia hora ao hotel, mas não houve muito problema.

Repetiram a dose uma dúzia de vezes, até que Matilde lhe confessou estar apaixonada. Queria que vivessem juntos, ali na Chácara Flora, em seu apê. Vítor também estava gamado e adorava a idéia. Mas homem honesto e direito que era, alegou que não a podia sustentar, ainda mais ali naquele bairro. Matilde disse que, pelo menos por um tempo, não largaria o “ofício” – Vítor estava apaixonado demais e acabou cedendo. “Mas só até ajeitarmos as coisas, mulher”, falava.

Mas a vida de segurança não era nada fácil. Vítor não ganhava nem pra ele, quanto mais para dois. Matilde seguia fazendo o trampo na boate e a notícia de que os dois estavam juntos começou a espalhar. Matilde caiu fora e a grana começou a apertar.

Até que Matilde teve a idéia genial – atenderia em casa mesmo, no melhor estilo “privê” moderno – e Vítor lhe faria a segurança, caso algum cliente passasse dos limites. Os anos se passaram e Matilde ampliou a clientela. Das dez da manhã às dez da noite era uma foda atrás da outra, sempre com Vítor na butuca, em qualquer caso.

Cinco anos foram assim, até que Matilde juntou uma grana – mas grana mesmo. O resultado de cinco anos levando pau doze horas ao dia havia sido uma gorda conta bancária, de mais de R$ 10 milhões. Matilde, já com seus trinta e dois anos, já estava perdendo a juventude, embora ainda fosse uma baita de uma morena. Resolveu largar a vida de puta, para se dedicar a seu paciente e amoroso marido, que esteve todo esse tempo ao seu lado, mesmo com a profissão que mantinha.

Dois anos se passaram. Os dois levavam uma vida para lá de confortável, mas a cada dia que passava, Vítor parecia mais deprimido. Havia perdido a vontade e, para quem quer que olhasse, parecia estar à beira da depressão. Matilde desesperava-se, mas não tinha idéia do que fazer. Tudo o que podia fazia para agradar ao marido, mas nada lhe funcionava.

Um dia, no café da manhã, resolveu abrir o coração para o marido. Queria, pelo amor de Deus, que ele ao menos dissesse a ela o que podia fazer, para que visse de novo sua felicidade. Vítor disse a ela que não tinha o direito de lhe pedir o que queria, mas Matilde foi irredutível: “faço qualquer coisa, qualquer coisa mesmo”. Vítor então lhe pediu que ficasse em casa, que sairia e voltaria logo mais. Matilde obedeceu.

Duas horas depois, Vítor retornou. Entrou em casa junto com um outro senhor, de uns cinquenta anos de idade. Matilde olhou fixo sem entender, enquanto o coroa puxava duzentos reais da carteira e entregava a Vítor, que apontou Matilde e o quarto atrás dela. Compreendendo razoavelmente o que se passava, Matilde acompanhou o outro homem até o quarto, deitou na cama, se despiu e começou a chupá-lo. Ainda pôde ver Vítor fechando a porta.

Terminado o “serviço”, o homem virou de lado na cama e começou a cochilar. Matilde levantou com cuidado, nua mesmo, abriu a porta do quarto e seguiu em direção ao quarto ao lado, onde Vítor costumava montar tocaia como “segurança”.

Abriu a porta e viu Vítor – braguilha aberta, pênis para fora… o sêmen na calça e um sorriso feliz e prazeroso no rosto. Ao contemplar a cena – e ver que finalmente havia trazido de volta a felicidade do marido – não sabia se chorava de felicidade ou tristeza. Chorou mesmo sem ter decidido.